terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Behind Crimson Eyes



















Behind Crimson Eyes - Derek Hess, 2006 (arte da capa do CD "A Revelation for Despair", da banda Behind Crimson Eyes)

Murder Your Darlings





















Murder Your Darlings - Derek Hess, 2005 (arte da capa do CD da banda Murder Your Darlings)

Flood Damage






















Flood Damage - Derek Hess, 2006

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

The Butcher Bunny














The Butcher Bunny - Mark Ryden, 2000

Rosie's Tea Party



















Rosie's Tea Party - Mark Ryden, 2005

Girl Eaten by Tree











Girl Eaten by Tree - Mark Ryden, 2006

terça-feira, 4 de novembro de 2008

...or: you don't like any colour

E digo de novo: as pessoas descoloridas pintam paredes da cor da própria cara. Mas como elas acham que a cara é a mais bela ("oh, que belo tom de rouge nessa cútis leitosa" é o que elas pensam em frente a qualquer espelho), olham a parede depois de pronta, com cara de nojo, e dizem:
- Ai, essa não é a cor da minha carabela...
Todos os escravos com orelhas de burro de papel se reúnem: as paredes serão pintadas novamente, com novidades saídas diretamente do vaso sanitário.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Any colour you like

Pessoas sem-graça pintam paredes da cor da própria cara.
Begezinho, pfff

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Ne-nhu-ma!

Já passava muito do meio-dia quando entrei no barzinho da esquina. A passos tímidos, vaguei por entre pratos e restos de comida e gente de barriga estufada até encontrar uma mesa desocupada. E foi uma bem no canto, encostada na janela. À direita, uma magnífica visão da parede lateral encardida do concorrente Gavião Lanches; à frente, uma mulher, sentada de costas pra mim. Mal sentei e o atendente já veio, com a caneta e o bloquinho a postos:
- Qual é o prato do dia? - perguntei.
- É peixe à Escabeche, batata cozida no vapor, arroz, feijão e salada.
- Mnn. Então vê pra mim uma a la minuta sem carne... - sempre pergunto qual é o prato do dia, e sempre fico com a mesma a la minuta sem carne. Talvez eu sinta alguma espécie de prazer inconsciente fingindo alguns instantes de hesitação em frente aos atendentes.
Feito o pedido, fiquei olhando por um tempinho pra parede do concorrente, depois pras pessoas passando na rua em frente ao concorrente (aqui é preciso deixar claro que eu estava, em verdade, numa estufa de vidro: as paredes a minha frente, à esquerda e à direita eram compostas por um aglomerado de pequenos quadrados de vidro com as juntas mal-pintadas de marrom claro, proporcionando uma visão panorâmica dos arredores). Passado o êxtase inicial da observação das coisas da rua, algo trouxe minha atenção pra mesa da frente:
- Moço, será que pode passar mais o franguinho dela? Assim, ó: quando começar a levantar aquele cheirinho de queimado já dá pra tirar da chapa...
- Claro, peço sim - e saiu, com o pratinho do bife de frango numa mão e uma pilha de louça suja na outra.

Isso que vou descrever agora se passou num intervalo de cerca de 20 segundos.
Após ouvir o pedido da outra, tão singular e estridente, comecei a analisar as duas que estavam na mesa da frente - duas, eram duas sim: a princípio, pensei que fosse apenas uma, solitária como eu; mas quando se elevou aquela voz, reparei na outra que estava atrás.
Observei que o local esvaziara quase que completamente enquanto estive distraída com a parede do Gavião Lanches e outras coisas cinzas da rua.
A moça que bloqueava a minha visão da outra era, de fato, enorme o suficiente pra encobrir a outra, quase raquítica. O status dela passou de mulher pra moça quando observei minuciosamente o braço dela: era alvo, gordo e pelancudo, mas não flácido: devia estar na mais tenra idade, certamente não passava dos 13. E a roupa que trajava comprovava a teoria: blusinha mimosa com manga bem curtinha de princesa, legging preta cheia de bolinha de porquice e All Star. O cabelo era castanho escuro.
A outra, não pude ver muito bem. Mas tinha cabelo quase completamente grisalho. Deduzi que fosse a mãe, mãe extemporânea.

Pois essa análise foi interrompida por outra voz, tão espalhafatosa quanto a da mãe extemporânea, que vinha de uma das mesas do centro:
- Ahh, frango tem que ser bem passado mesmo, né? Tem umas coisas que até dá meio cru, tipo carne de gado, mas frango e porco só bem-passado!, dizem que faz mal... e peixe também!
(nessa hora surgiu na minha mente um painel gigante com sushi sushi sushi reluzindo incessantemente em néon)
- É, e ela gosta bem passado - disse a outra, apontando com a cabeça pra massa exagerada de carne e gordura sentada a sua frente.
(meu pedido chega)
A do centro, animada com a resposta da outra, não calou mais a boca:
- Essas coisas cheias de gordura só fazem mal mesmo... Lá em casa, eu faço toda a comida sem uma gota de óleo: salada, arroz e tudo. Fritura?, nem pensar! Só assim, umas 2 vezes por ano eu saio pra comer uma a la minuta - e hoje é uma delas; por isso que consigo me manter assim e saudável.
Olhei pra ela, pra ver o que era o assim, mas não passava de uma encrenqueira de meia-idade meia-boca, magra mas nem tanto, deliciando-se com o fato de poder despejar um pouco de sua magnificência sobre 2 almas tão necessitadas - óbvio!
- Sabe quantas latas de óleo a gente gasta lá em casa por ano? - continuou.
- Quantas? - murmurou a outra, enquanto estraçalhava o bife no prato.
- Ne-nhu-ma! Dá pra acreditar? Só sei que eu me sinto bem melhor desde que cortei o óleo todo da comida. Bom, eu vou indo agora. Tchau!
- Tchau.
Catou a bolsa e saiu.
As outras 2, após poucos segundos de silêncio, continuaram a conversa - continuaram? Não sei, não tinha sequer ouvido a voz de alguma delas até o negócio do bife estourar. Falaram disso e daquilo, de como a que saiu era mentirosa e de como seria quando a guria começasse a namorar (e a grisalha irredutível, querendo preservar ao máximo a integridade da filhotinha), falaram falaram e foram embora.
Na mesa, ficou a garrafinha 600 ml de guaraná, suando de tão gelada, quase cheia. Ahh que eu teria pego se não tivesse entrado aquele bando de bocabertas e sentado bem ali nas mesas do lado: nessas horas é que eu percebo que ainda me resta um pingo de dignidade e respeito à propriedade privada.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Lap Dog


Lap Dog - John Bellany, década de 1970

The Fright

The Fright - Jonh Bellany, 1968

The Bereaved One




















The Bereaved One - John Bellany, 1968

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

A tartaruga de pedra

Que eu fui uma criança tímida e solitária, os poucos que me conhecem sabem. E sempre me apaixonei instantaneamente por coisas um tanto exóticas e em geral inanimadas: foi assim com o conjunto de 3 mini-mini coelhinhos de biscuit que ganhei no aniversário de 8 anos, foi assim com o burrinho de madeira que era controlado através de uma mola, e foi assim com o mega prendedor de roupa com a honrada inscrição "Mulher do Ano" escrita à caneta num pedaço de fita crepe.
Pois bem: quando eu tinha uns 4 ou 5 anos, me apaixonei por uma tartaruga de pedra que vi na casa da minha vizinha. Media cerca de 10 centímetros e era verde bem claro - tudo o que lembro. Mas fiquei imaginando durante dias como seria maravilhoso ter uma tartaruga como aquela, todas as coisas fantásticas que poderia fazer com uma tartaruga como aquela.
Algumas semanas depois, essa vizinha (que devia ter uns 7 anos) se juntou com uma amiguinha numa grudenta tarde de verão e resolveu vender as coisas da casa numa feirinha. Expuseram as quinquilharias numa mesa, no pátio em frente à casa, e saíram à cata do primeiro freguês. E o primeiro freguês, por uma vil coincidência - ou por sadismo desenfreado, o que comecei a suspeitar depois de uma vida de vis coincidências relacionadas à tal vizinha - o primeiro freguês fui eu.
De longe avistei a tartaruga de pedra, verde e soberana em meio a todas as miudezas surripiadas da casa na ausência da mãe. Meu coração batia mais forte.
- Quanto tá aquela tartaruga verdinha ali? - imaginava que devia custar uma fortuna; era ainda na época do CR$, eu não sabia contar o dinheiro e todos aqueles zeros me apavoravam.
Entreolharam-se e foram cochichar atrás dum arbusto. Voltaram poucos segundos depois, e anunciaram o preço com a maior sobriedade. Fui correndo pra casa e implorei pra que minha mãe deixasse eu comprar a tartaruga; depois de muita insistência, voltei pra lá radiante, com a nota devidamente dobrada e segura entre as mãos.
Parei na frente da mesa e estendi a nota.
- Olha, a gente não quer mais te vender a tartaruga - e começaram a rir.
Senti que ia começar a chorar e saí correndo pra me esconder. Pensei na tartaruga durante muitas semanas, até aceitar que ela jamais poderia me fazer companhia.

Alguns meses depois, acompanhei minha mãe pra fazer não-lembro-o-que na vizinha. No chão da garagem, perto das bicicletas, estava jogada a tartaruga de pedra, já sem cabeça e com apenas 2 patas.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

O posto (parte 1)

Nasceu um dia cinza e feio.
Mais uma vez, Bibiana se arrastou até a parada e chegou a tempo de avistar a traseira do ônibus lá adiante, na outra esquina. Ok, não era novidade. Enfiou a mão na bolsa e catou o espelhinho; posicionou-o em frente ao rosto: o corretivo já não dava mais conta das olheiras. Ok, também não era novidade.
Acendeu um cigarro e sentou no murinho atrás da parada. A calça já fora branca, mas amarelada como estava não faria diferença mesmo. Aliás, nada fazia diferença: um cigarro a mais, uma trepada a mais, um atraso a mais, um dia a mais. Tinha 26 anos, um emprego de merda no escritório de um posto de gasolina falido, um periquito esverdeado que parecia ser mudo, um apartamento alugado com piso de carpete e uma samambaia, um cigarro aceso entre os dedos na maior parte do tempo.
Por vezes, passeava entre as bombas enquanto fumava, rolando comentários carregados de tédio na direção dos frentistas. É, gasolina. Mas não fazia diferença; a gasolina era tão adulterada que nem pra isso servia. O dono do posto nunca aparecia por lá: era só ela, Joacir (velho e apático demais pra se importar) e Pépe. Nos dias de maior marasmo, ela e Pépe se trancavam no banheiro por alguns minutos; reapareciam suados e vermelhos, com o mesmo semblante entediado.

Pépe era descendente de mãe boliviana e pai mexicano que mudaram para o Brasil com perspectivas de melhorar de vida. O pai trabalhava em outro estado, era cortador de cana. A mãe, grávida, acreditava piamente que esperava uma menina.
No dia do parto, mandou uma carta pro esposo e disse que a menina estava pra nascer a qualquer momento. Pediu a ele que registrasse a criança assim que possível, pois seria brasileira e teria carta de identidade e aprenderia a ler e escrever. Escolheu o nome logo que a barriga começou a crescer: Penélope.
Quando o pai conheceu a criança, 7 meses depois, o estrago já estava feito.
E era por isso que Pépe era conhecido apenas como Pépe. Não aprendeu a ler nem escrever, mas foi classificado por Bibiana como "uma boa trepada, até".

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Ummagumma

Ummagumma - Pink Floyd, 1969

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Toward Los Angeles

Toward Los Angeles - Dorothea Lange, 1937

Rex Theatre

Rex Theatre - Dorothea Lange, 1937

Caroline's Kitchen


Caroline's Kitchen - Dorothea Lange, 1939

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Landship Recruit on Union Square






















Landship Recruit on Union Square
- George Grantham Bain, 1917

Three New York-Brooklyn bridges from Brooklyn















Three New York-Brooklyn bridges from Brooklyn
- George Grantham Bain, 1908

Third Avenue “L” at Houston Street
















Third Avenue “L” at Houston Street - George Grantham Bain, 1910

New York
















New York - George Grantham Bain, 1908

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Candy Cigarette



Candy Cigarette - Sally Mann, 1989

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

De oncinha

Lá vinha Ela. Hoje, ahh!, que delícia ela hoje.
Subiu no ônibus, passou pela roleta e trocou alguns comentários sobre a chuva da madrugada com o cobrador.
07:46 da manhã
Sentou num dos bancos reservados a idosos, bem na frente Dele.

Desde o dia em que a vira pela primeira vez, sonhava com o dia em que ela sentaria ao seu lado.
Mas hoje ela sentou bem na sua frente.
E era um dia quente e as janelas estavam abertas, o vento acariciava aqueles belos cabelos e carregavam o delicioso cheiro até ele. E o doce cheiro causava nele um frisson indescritível.
Estendeu a mão em direção ao cabelo; deixou-a pairando por 2 segundos; recolheu. Pois seria agora que o velho covarde mudaria?
A criança do banco ao lado olhava pra ele e ria.

E a cena foi mesmo tão patética quanto a descrição.

Não sabia sequer o nome dela. Tinha cerca de 30 anos, loira platinada de sobrancelhas escuras obcecada por estampa de oncinha sempre com as roupas menores que o corpo - e era tudo o que sabia. Mas cada detalhe, cada movimento o encantava.
E hoje ela estava radiante, toda em tons dourados: usava um lenço dourado com brincos de argola seguindo a tonalidade e um pingente do mesmo conjunto, blusa bege-claro sobreposta por um casaco com estampa de oncinha, calça marrom mais-que-justa de cima a baixo e sapatilhas de oncinha, óculos de diva dos anos 60 marrom-matizado combinando com a bolsa. E aquela blusa era tão decotada e os peitos tão fartos e tudo tão farto e... era demais pra ele. Sentia como se a qualquer momento fosse ter um treco. Ela o fazia pensar nas mais sujas obscenidades: sentia vontade de afundar a cara no meio daqueles peitos, de puxar aqueles cabelos, apertar aquela bunda com toda força, arranhar, bater, rastejar, morder... só de pensar nisso já sentia uma ponta de vivavidade lá embaixo.
Começou a segui-la há cerca de 10 meses. Cruzou com ela por algum fascinante acaso do destino, num dia em que tinha uma consulta médica de manhã bem cedo. No dia seguinte, foi entregar alguns exames e a viu novamente. Desde então, de segunda à sexta, ele pega o Praia de Belas das 07:44. Virou sua obsessão.

O que o frustrava mais que tudo era o fato de ela nunca ter sentado ao seu lado. Logo ele, que fazia questão de não sentar noutros assentos senão nos vermelhos, sentou em todos os cantos do ônibus pra ver se algum dia ela sentaria ao seu lado - mas parecia que ela nem o via. Teve até um dia em que foi sem a boina e levou um botão de rosa vermelha, disposto a superar a timidez e declarar sua paixão em frente a todos os passageiros. Mas isso foi no dia em que ela encontrou aquela conhecida no ônibus e ficou sabendo da liquidação na Marisa; viu quando ela ligou pro chefe e disse que tinha que acompanhar uma amiga até o HPS e se atrasaria um pouco.
Desembarcou no fim da linha e jogou o botão na primeira lixeira que encontrou.

Descia sempre na parada seguinte à dela. Atravessava a rua e esperava o ônibus que faria o trajeto oposto. Ali terminava sua aventura cotidiana.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008



Morangos Silvestres - Bergman, 1957

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Perry

Lá está, no sofá, atirado: Perry Anderson. E cá estou, evitando-o.
Tenta me seduzir com parágrafos intermináveis e notas de rodapé insossas e desnecessárias.
Ignoro.
"As invenções técnicas capitais desta época podem ser vistas, em um certo aspecto, como variações de um campo comum, o das comunicações. Elas se referem, respectivamente, ao dinheiro, à linguagem, às viagens e à guerra: mais tarde, todas presentes entre os grandes temas filosóficos do iluminismo", insiste Perry.
"Nem vem", replico.
"Marx, por seu lado, afirmou repetidamente que as estruturas administrativas dos novos Estados absolutistas eram um instrumento tipicamente burguês", de novo.

Nas entrelinhas de tais proclamações acaloradas, Perry deixa transparecer, timidamente, toda a inveja que sente do finado Engels.

sexta-feira, 28 de março de 2008

No cruzamento da Azenha com a Érico

Então a sinaleira abriu... e o carro ficou.
E lá fui eu, empurrando o carro até a calçada (tá certo que tinha outros três dentro do carro, mas acontece que sou uma excelente pessoa, tipo aquele cara da propaganda do táxi e da chuva - só que muito muito melhor e puramente altruísta, que isso fique claro [tipo: sabe aqueles seres que frisam incansavelmente o quanto são excelentes? Sempre quis ter um momento desses, não ia deixar passar a oportunidade]). O fato é que o carro chegou até a calçada, em algum momento.
Depois de inúmeras tentativas falhas de reanimar o carro, surge... alguém. Desses que ficam ali no meio do movimento, sempre à espera de uma desgraça pra entrar em ação.
- Tá com cara de falta de gasolina. Eu já dirigi muito carro nessa vida, sei das coisa.
- É álcool. E de qualquer jeito, o tanque tá cheio.
- Mas parece gasolina. Sabe, eu so de confiança. Trabalho ali ó, do otro lado - e aponta pro gramado que divide a avenida -; fico ali o dia todo.
- Ahh, ali. Eu sei! Vejo o senhor todos os dias, sempre passo por aqui de ônibus - mais uma das minhas súbitas respostas agradáveis e completamente falsas. Well, ele também mentiu que trabalhava.
- Gahaghaaa! Tu me conhece, é? - e juro, juro que essa risada/grunhido/espasmo foi das coisas mais assustadoras que já ouvi; não durou mais que dois segundos, mas foi o suficiente pra notar os quatro buracos outrora preenchidos com dentes.
Ele ronda o carro. Espia pela janela e tenta:
- Ô, chimarrista: me vê um cigarro aí!
- Ninguém fuma aqui - corto, implacável como a nova Gillette Mach3 Turbo Victory (é, Devin: somos duas putas).
- Tô achano que não vai pega esse carro, viu? Logo ali assim tem uma oficina, tá vendo? É 300 metro pra lá. Eu conheço aqui, trabalho há tempo aqui. Trabalho numa comunidade, sabe? Tomara que tu pegue o João por lá. Ele é meu amigo, sabe? Tá sempre por lá, mora logo ali atrás - e aponta pro Olímpico.
- Ahn... Tá, vou até a oficina - uma oficina e alguns minutos longe daquele bafo de cachaça: perfeito.


- Não tem nenhuma oficina ali! Falei com o cara do posto de lavagem: ele trabalha aqui há 2 anos e disse que a oficina da Érico
mais próxima fica uns 2 km pra lá. Falou que era melhor ir numa outra que fica ali pra trás, são só três quadras.
- Moça, eu até ia fica aqui ajudano, mas é que agora preciso trabalha...
Cruzou a avenida e foi conversar com a moça dos panfletos. Sobre a comunidade, supus.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Nada elucidativo

- Sabe onde fica o prédio da Física?
- Sei, fica pra lá.
- Tá, valeu.
- Espera! Tu pega e... vai... ahn... Ah, pede pralguém que tu encontrar pelo caminho.
- ...ahn ahhh, sim. brigada.

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Protocolos e afins

Agora eu pensei: não seria bem melhor se não existissem essas porras virtuais que te permitem saber o que os teus malditos colegas da 5ª série fizeram em Torres ontem? Não que eu tenha interesse em inutilidades desse tipo, mas é um exemplo tosco que era pra ser tosco mesmo pra demonstrar a facilidade da coisa.
Me imaginei vivendo há uns 15 anos atrás: moradora recente da capital do estado, no meu apartamento escassamente decorado (salvo o telefone no hallzinho de entrada: desses com a roda de discagem - será esse o nome? - ainda, verde-sem-graça: o luxo da casa). As ligações ainda seriam relativamente caras, e Bill Clinton estaria dizendo por aí que a internet seria uma tecnologia passageira. Meu único contato não-físico com a antiga cidade seria através do telefone. Uns raspariam o cabelo (não era essa a
moda capilar masculina em meados dos anos 90?), outras tatuariam a sobrancelha e usariam unhas postiças e casariam e teriam gêmeos - e talvez eu jamais ficasse sabendo disso.
Maaaas, como o Bill tava errado e não tenho telefone no hall de entrada, cá estou, completamente encontrável. Meus colegas da 5ª série podem facilmente constatar que continuo dividindo o cabelo (é, bastante coisa pra falar sobre cabelos hoje) com uma risca à esquerda e que não me tornei muito mais sociável. Podem ser simpáticos e fingir interesse pelo último final de semana que passei. Podem me desejar feliz páscoa antecipadamente. Podem tudo, ao mesmo tempo em que continuam no anonimato: todos sabem sobre todos, sem necessariamente manter contato direto. E no fim, todos se agarram o quanto podem à impressão de que estão
mantendo laços das mais variadas espécies com todos aqueles que não teriam nem ligado, 15 anos atrás.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Super NES

Título auto-explicativo? Nem tanto. Aliás, não gosto de títulos - os auto-explicativos, então: abomináveis.
(tá, eu tenho problemas com exclamações e títulos. Mas ao menos tô ciente disso.)

Quando eu era pequena (lálálá), pensava freqüentemente "ainda bem que nasci nessa época: tem TV, video game, tudo. As pessoas não deviam ter muita coisa pra fazer antigamente...". (enfim, tanto pensei nessas pobres pessoas de outros tempos que resolvi estudá-las). Anyway, livros e meu Super NES foram as melhores coisas da minha infância, e por alguns anos cheguei a ter uma estranha impressão de eternidade. E tive, inclusive, noções de datilografia na escola (ha, computador? Ninguém tinha; batalhei
muito pra conseguir trocar a viagem das oitavas por um).
Hoje, não sou mais aquela entusiasta tecnológica de antigamente. Falar que os tempos mudaram, que a farinha tá cara, que não vale a pena comprar nada por que amanhã vai ter coisa melhor, não, não é comigo. O que (ainda) me assusta é a facilidade de acesso que temos a qualquer coisa. Qualquer coisa, sabe? Dá pra saber tudo sobre tudo, na hora. Vídeos, pessoas, receitas, complôs - tudo o que se encaixa na categoria
tudo. E não é nada difícil, já que a aliança entre informações excessivas e a massa despreparada e ávida acabou gerando milhões de mentes deformadas. Por "mentes deformadas" entendo o desconhecimento que a maioria das pessoas têm sobre si mesmas, e a subseqüente busca pelo conhecimento interno em algo exterior. Ora, as pessoas não sabem mais fazer sexo! SEXO! Isso é o que tem de mais instintivo; ainda que possamos ver sexualidade esbanjando por aí, as pessoas buscam manuais de sexo (seriam, então, falsas demonstrações de sexualidade o que vemos por aí? Taí o ponto que eu queria atingir: tudo hoje em dia é aparente. Valem fotos da própria cara, do piercing no umbigo, estrofes de letras vazias e insignificantes, dezenas de pessoas que se dizem teus fãs. Muitos têm como único objetivo demonstrar incansavelmente o quão interessante e agitada é sua vida. Demonstrar).
Não sou saudosista, nem conservadora. O que acontece é que o capitalismo venceu e blábláblá Whiskas Sachet; logo, ficou na obrigação de proporcionar entretenimento coletivo pra apaziguar e melhor administrar tamanho capital humano já deformado.

domingo, 27 de janeiro de 2008

[insert title]

Well: again.
Confesso que nunca tive interesse algum em criar um lugar imaginário que eu pudesse entupir de coisas idiotas e mesmo sendo coisas idiotas todos viessem e dissessem "ai, que bunito que vc ixcrevi" ou "yeah, cool". (sem contar que esse tal lugar - vulgo
blog - fica em outro lugar que não existe [sim, acho todas essas coisas soft irreais e não-merecedoras das minhas crenças]). Mas resolvi criar um lugar desses especialmente pra uma pessoa, que nem sempre tá por perto quando eu elaboro os sofismas mais rebuscados... Atenção, pessoa: agora tu tem acesso às minhas idéias em qualquer lugar! (exclamação... não-exclamação... é, exclamação).
O fato é que criar essa porra deu um baita trabalho. Tá, pensei que ia demorar uns dez minutos, mas levou bem mais de uma hora; por algum motivo ainda não esclarecido, o texto insistia em ficar com uma formatação diferente a cada tentativa (e juro que não foi culpa minha! Além de tudo, esses lugares que não existem agem de forma duvidosa). E... Bem, também tinha que escolher as cores e tal - o que demorou cerca de dois minutos, já que escolho as três cores de sempre em 90% das situações.
Espero, sinceramente, que eu honre todo esse tempo gasto com coisinhas e que continue a escrever (ora, só com o tempo que gastei pra criar esse troço já poderia estar com meu necromante no level 20).

Que?

Pois bem: há algum tempo me  prometi que escreveria. Qualquer coisa, disse. Não lembro se cheguei realmente a prometer, mas enfim: resolvi escrever.
Antes de qualquer outra coisa, vou selecionar qualquer fonte que não seja Times. É inexplicável, mas desde sempre essa fonte me irritou muito, e até hoje não entendo como ela é o padrão do Word.
Pronto. Sem mais reclamações acerca de coisas abstratas.
E agora não tenho sobre o que falar! (que ponto de exclamação estranho. Já cheguei a mencionar que não gosto nem um pouco de exclamações? Pois é. Sempre paro e penso um monte antes de usar uma. Sei lá, sempre me soou tão falso. Mnnn... pensando mais pragmaticamente, acho que sou uma pessoa com uma enorme lista de coisas pra não gostar: pessoas, exclamações, Times, The OC, escrita formal desnecessária, aparições intelectuais em locais desnecessários, hierarquias, e infinitamente mais coisas. Basicamente, tudo o que envolve pessoas. Eu tô tão, mas tããão enjoada de todas essas pessoas seguindo condutas padronizadas e dizendo que buscam distinção moral. Vem daí a minha implicância com aqueles que se auto-proclamam indies: todos sempre iguais, sempre pensando que são diferentes e que estão sozinhos no mundo. Tá, vou deixar os indies pra lá – eles têm sido o principal alvo das minhas críticas à massificação e exteriorização social nos últimos tempos, já deu pra entender. Acontece que esses dias eu tava no ônibus, voltando pra casa, sentada bem no fundo – como de costume -, e prestei atenção no ambiente: todos sentados ao lado de estranhos, todos arrumadinhos. Um levanta, puxa a campainha e desce. Outro levanta, puxa a campainha e desce. E outro e outro. E eu. O que me deixa boquiaberta é a abominável quantidade dessas porras que a gente decora pra viver em sociedade, a mecanização humana, que gera, por fim, a tal padronização - tida pelos mais sensatos seres como normal. Chega, minha dor de cabeça tá voltando.)