terça-feira, 26 de outubro de 2010

hoje a esperança foi embora.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Left out

talvez eu tenha achado que pudesse ter algum direito a sonhar com terras longe demais. não sei por que me arroguei tal direito; pode ser que tenha me acostumado ao som de teclados espaciais e pensado que seria possível.

às 10:07 de todas as manhãs, eu ajeitava o anel enferrujado na janela; e todas as manhãs eu pensava que se o sol incidisse sobre o anel e eu desejasse de verdade, um portal seria aberto no céu e eu estaria livre, em qualquer outra terra longe dali.
imaginava como seriam as pessoas do outro lado, se falariam comigo. se eram tão sozinhas quanto eu.

não existe portal. não existe ninguém do outro lado.
o sol é fosco e metálico. i'm cold inside.

The dream went away
And you came
With your dark hair loose
Ruthless cold reality
Oh, how I hate your truth
Don't turn your back this time
Just look at my eyes
I won't break down
I'm going to fight * 



(*) Left Out - Riverside

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Poeira

Quando estive sentada observando as pessoas que me observavam, abateu-se sobre mim a dúvida
se eu pareço a eles todos algo alien de longe daqui, um caso arquivado indecifrável - por isso me olham?
um alien não pode ser caso arquivado porque é por demais interessável, e um caso arquivado não suscita olhares - eis-me como um alien sentada em frente às pessoas.
Como seria o céu de quem tem todo o tempo do mundo se fôssemos maiores que nossas fôrmas? E não agimos como se tivéssemos todo o tempo do mundo? E não bebemos como se pudéssemos esquecer que não é fácil ter que esperar o tempo de cada coisa, e o tempo em que nos odiamos e queremos estar longe dali de nós mesmos, e o tempo em que não sabemos o que fazer nem temos com quem falar - e se tivéssemos com quem falar, existe esse alguém que sabesempre o que fazer?
Pó é poeira quando você não está ali para significar. poeira que seca os olhos e não deixa as lágrimas afluírem;
e no fundo no fundo, admito, não é culpa do pó se os nãos que evitam algo dessignificante
apenas não conseguem achar algo para corroer aqui dentro, onde arquivei meu coração.
(é que você não está ali para significar)
Não é estranho que o significado do agora esteja nas letras de uma banda polonesa?

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Sobre a dor

Mesmo se alguém com opinião suficientemente influenciável e difundida,
um alguém que resolvesse lançar um compêndio sobre a dor,
qualquer um que sabe o que é dor - um qualquer que não busque a comoção através de relatos e sintomas aglomerados num compêndio, que não corra atrás do sofrimento dos lugares mais sofríveis, que não sente em frente aos macacos agonizantes de uma realidade distante a esperar pelo toque da empatia - qualquer um que tenha um buraco constante na alma saberia que não se pode falar sobre toda densidade e profundidade de uma dor.
- E as músicas tristes que as pessoas fizeram? E os filmes? - ela perguntou enquanto servia outro copo de vinho, e senti vontade de nunca ter iniciado o assunto; soube que ela não poderia entender - mesmo se quisesse, do fundo da alma, entender; ainda, se assim fosse, menos mal eu poderia me sentir, mas estava claro que ela faria perguntas gentis sobre qualquer assunto que eu sugerisse: dor, jacarés ou eleições.
Disse-lhe que não havia parado para pensar sobre isso, e ela começou a contar a história da filha de uma tia que precisou amputar a perna esquerda. Disse-lhe coisas boas de se ouvir antes que o silêncio recaísse sobre nós - sei que ela não suportaria, embora não fosse mais que apenas alguém com quem eu poderia repetir o roteiro de sempre. Deixei que se embebedasse o suficiente para fazer logo o que - sei - ela esperava desde o começo; bebi menos que o suficiente para fingir interesse mais que sexual.

losing all i fought for

Como ela poderia saber sobre a dor desse buraco ou que perder uma perna não é a mesma coisa que se ter um buraco impreenchível? Ainda esperava cruzar meu olhar com o de alguém que soubesse sobre a indescritibilidade das dores. Cada noite amanhecida ao lado de novos corpos com olhos rasos faz ruir um novo pedaço de mim, perdido para sempre no buraco.