sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Protocolos e afins

Agora eu pensei: não seria bem melhor se não existissem essas porras virtuais que te permitem saber o que os teus malditos colegas da 5ª série fizeram em Torres ontem? Não que eu tenha interesse em inutilidades desse tipo, mas é um exemplo tosco que era pra ser tosco mesmo pra demonstrar a facilidade da coisa.
Me imaginei vivendo há uns 15 anos atrás: moradora recente da capital do estado, no meu apartamento escassamente decorado (salvo o telefone no hallzinho de entrada: desses com a roda de discagem - será esse o nome? - ainda, verde-sem-graça: o luxo da casa). As ligações ainda seriam relativamente caras, e Bill Clinton estaria dizendo por aí que a internet seria uma tecnologia passageira. Meu único contato não-físico com a antiga cidade seria através do telefone. Uns raspariam o cabelo (não era essa a
moda capilar masculina em meados dos anos 90?), outras tatuariam a sobrancelha e usariam unhas postiças e casariam e teriam gêmeos - e talvez eu jamais ficasse sabendo disso.
Maaaas, como o Bill tava errado e não tenho telefone no hall de entrada, cá estou, completamente encontrável. Meus colegas da 5ª série podem facilmente constatar que continuo dividindo o cabelo (é, bastante coisa pra falar sobre cabelos hoje) com uma risca à esquerda e que não me tornei muito mais sociável. Podem ser simpáticos e fingir interesse pelo último final de semana que passei. Podem me desejar feliz páscoa antecipadamente. Podem tudo, ao mesmo tempo em que continuam no anonimato: todos sabem sobre todos, sem necessariamente manter contato direto. E no fim, todos se agarram o quanto podem à impressão de que estão
mantendo laços das mais variadas espécies com todos aqueles que não teriam nem ligado, 15 anos atrás.