sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Wonderland?


ffffound!

Nameless

Eu ando com um problema de memória muito específico: nomes. sério: só nomes, e especialmente nomes de pessoas. Já tenho uma imensa facilidade para esquecer (mesmo que temporariamente) acontecimentos ruins, mas isso é uma bênção dos deuses - ainda que de tempos em tempos eu sonhe e lembre de muito que havia esquecido porque na verdade ninguém nunca esquece absolutamente nada.

Pois hoje à tarde me aconteceu, e até agora tento me lembrar de um nome. Sei quem é, o que faz, lembro de tudo a respeito. mas o nome, não. Vejamos:
é músico e toca violão
é amigo do Lennon
namorada faz medicina
Monstro do Pântano também conhece
ganhou o prêmio Açorianos com um CD que acho que se chamava “Balada de Los Buendia” - sim, era esse o nome (e DISSO eu lembro, eu que nunca li nada de García Márquez)
Mas e o nome? Nem da primeira letra eu lembro.

Era quente, uma tarde das mais abafadas em Porto Alegre. o céu cinzento, o ar parado, o suor escorrendo pelas costas. Eu com o óculos que ando usando há alguns dias, que é extra dark e gigantesco (e o fato de ele tampar boa parte do meu rosto muito me agrada), que aliado à miopia me tolhe a visão de muitíssimas coisas; tinha saído do serviço meia hora mais tarde (afinal, um dia na vida poderia ficar um pouco mais, já que chego 40 minutos atrasada todos os dias); ouvia Jethro Tull bem alto e ia para casa - onde gatos, bagunça e sombra fresca certamente encontraria. Entre a rua do brick e a Venâncio, ele - cujo nome não sabia - vinha em minha direção e disso eu também não sabia até quando ele resolveu abanar: certamente não o teria visto se não tivesse me abanado e quase me cortado a frente. No susto, tirei os fones e o óculos para ver quem era. Ahh, sim: o amigo do Lennon!

- E aí, tudo bem? - perguntou

- Tudo bem. - falei isso e estendi a mão, que ele apertou. - Como é que tu me reconheceu?

- Por que, tu tem alguma coisa diferente?

- Não mas é que eu tava com esse troço gigante na cara e olhava pro outro lado da rua.

- Eu tinha um desses também. é, era igualzinho a esse. Esqueci no ônibus quando fui tocar em Passo Fundo.

- Tá indo pra onde com esse calor?

- Tô vendo se encontro um orelhão mais silencioso, preciso fazer várias ligações. E tu?

- Pra casa. Acho que aqueles lá naquela rua são meio silenciosos.

- É, parecem ser. Tem visto os guris, Ellen? Eu queria ter falado com eles ontem, mas tava com torcicolo e não conseguia nem virar pro lado.

Ele lembrava meu nome, e eu não vou lembrar JAMAIS do nome dele se alguém não o repetir perto de mim.

- Bah, eu acho que eles tavam combinando alguma coisa pra fazer na Cidade Baixa mais tarde, tomar umas cevas.

- Ah, vou ligar pro C. então, acho que vou com eles. Umas cevas nesse calor vão bem!

- Bah, vão superbem. Mas então tá, eu vou indo. Até mais.

- Até!

Os fones e o óculos voltaram para o lugar e continuei caminhando pela tarde quente, por vezes lembrando quão melhor teria sido se tivesse pêgo um ônibus.

Com tudo que sei sobre aquele cara, não seria difícil descobrir o nome dele a qualquer instante. mas não vou. Resta uma vaga e persistente esperança: em algum momento, lembrarei do nome all by myself.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

deep peace

it's alright to cry
it's alright to lean on everyone
it's alright to lie in the bed you've made for everyone

and anytime you need someone,
anytime you heed someone
anytime you need me babe, i will be there.

it's alright to die
it's alright to bleed on everyone
it's alright this time
it's all life, you learn from everyone

with every single time you go
...and every single line you blow
anytime you need it man, i won't be there

(inside the picture of the huge, sterile black and white diner on a rainy Sunday afternoon in Chinatown)

it's all going away now
...all going away now
going, going...gone
going, going...gone

it's alright to cry
it's alright to feed on everyone
it's alright to hide,
in your cozy bed from everyone

so anytime you need it man,
get inside and be it man...
anytime you call,
suffer!!!



Devin

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Uma merreca

Dóris empurrou o balde com a ponta do pé e largou o pano sujo dentro. Remexeu-o na água e torceu novamente: a perna continuava doendo, doía atrás do joelho esquerdo havia mais de um mês. mas agora faltava pouco, o salão de festas estava quase todo limpo e só faltaria passar a enceradeira e pronto: daí sim estaria tudo acabado.

A campainha ecoou pela casa. Passando pelo hall, Dóris parou por um instante em frente ao espelho para conferir se a presilha do cabelo estava ajeitada como deveria - perfeita.

- Olá dona Carmem, como vai? - falou Dóris.

- A gente vai indo Dóris, vai indo e tentando ser feliz como pode. - respondeu a outra.

- É, dona Carmem, não ta fácil pra ninguém. Mas vem cá: tu deu uma boa emagrecida né?

- Meniiina, aquele chá faz milagre, precisa só ver! Olha aqui, vem cá ver: a calça frouxa na cintura! Dá pra acreditar?

- Tô louca de vontade de tomar também, mas não acho jeito de ir lá no Mercado comprar. Coisa séria!

- Mas a gente vai levando, Dóris, tem que ir levando como dá. A Miriam tá na piscina?

- Não, hoje ela tá lá na biblioteca. Mas vai entrando, pode passar lá que a senhora já conhece o caminho.

- Pode deixar.

Dóris enrolou o pano no rodo e voltou a esfregar o chão: faltava pouco.



- E aí sumida!

- Aiiii Carmeeem! Quase me mata do coração, sua cachorra!

- Já que tu não dá notícias eu vim atrás pra ver como tu anda! Mas me diz: como vão indo as coisas?

- Quer um café?

- Quero.

- Açúcar ou adoçante?

- Agora pode ser açúcar, com aquele chá eu nem preciso mais me preocupar com adoçante!

- Ah, então tu tá mesmo tomando? Eu quase ia te perguntar se tu não tinha feito uma lipo, guria! Nunca antes te vi assim tão magra.

- Olha, esse chá faz milagre, é fora de sério.

- Ó: cuida que tá quente. Mas senta, vamos sentar ali nas poltronas.

Miriam foi até a janela e abriu a cortina. Arrastou uma poltrona até a frente da outra poltrona e sentou. Carmem sentou na outra poltrona.

- Mas deixa eu te dizer: tô ficando quase maluca. - disse Carmem.

- Tu parece mesmo um pouco abatida...

- Sabe, estão me enlouquecendo lá no departamento. Tu acredita que querem negar o meu pedido de pós-doutorado? dá pra acreditar numa coisa dessas?

- Mas que absuuurdo!

- Eles me disseram bem assim: tu não precisa disso, e acho que fazer um pós aqui na Universidade não seria uma boa opção. Mas eu disse que eu sou técnica porque eu quero, porque eu poderia muito bem dar aula mas acontece que eu quero mesmo é ser técnica.

- Que absuurdo!

- Sim, é um verdadeiro absurdo. Se parar pra analisar, eu tenho muito mais artigo publicado que muito professor de lá, mas eu quero continuar sendo técnica. E agora vão dizer que eu não preciso de pós? Mas olha, eu sei o que tá acontecendo: tem alguém lá que não vai muito com o meu jeito, porque eu se tenho que falar alguma coisa falo mesmo, não fico por aí fingindo e apertando a mão de ninguém, de ninguém! Só em 2008 eu publiquei 5 artigos, é muito mais do que qualquer professor de lá publicou.

- Só pode ser que tem alguém botando olho gordo.

- Sabe que eu até fui me benzer? Eles não sabem é que se eu for fazer o pós vai ser melhor pra própria Instituição, porque eu tô quase conseguindo uma patente inédita! Vão ver só: já dei entrada no pedido e marquei uma reunião com o conselho da unidade, porque isso não vai ficar assim. Eles desmerecem a própria Instituição e os próprios técnicos! Daí eu já pensei o seguinte: eu faço essa pós aqui e depois faço outra no exterior, eles vão ver só!

- Mas só assim mesmo, tem que correr atrás pra conseguir o que se quer.

- Nem me fala, já tô quase ficando doente.

- Mas e a Aninha, como é que ela tá?

- Ela tá suuuper bem, bem demais até. Sabe que a vida dela deu uma reviravolta daquelas depois que ela terminou com o Francis? Se arruma toda pra sair, tá com o cabelo loiro tão bonito... precisa só ver!

- Ela conseguiu emprego?

- Olha, ela tá trabalhando num escritório e ganhando uma meeeerreca, trabalha no escritório de dois arquitetos.

- Bom, ao menos é na área dela.

- Mas tem que ser assim, né? Ela tem que levantar as mãos e agradecer a deus por ter conseguido alguma coisa na área dela! nem que seja qualquer coisa, mas ao menos assim ela não perde o gosto pelo trabalho.

- É mesmo, ficar com um diploma na mão sem trabalhar desanima qualquer um.

- Mas é como eu sempre digo pra ela: a vida a gente tem que ir levando como dá.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Tea-Party

O Chapeleiro foi o primeiro a quebrar o silêncio. "Que dia do mês é hoje?", perguntou, virando-se para Alice: ele tinha tirado seu relógio do bolso e olhava para ele ansiosamente, chacoalhando-o de vez em quando e levantando-o no ar.

Alice pensou um pouco e então falou: "É dia quatro."

"Dois dias errado", suspirou o Chapeleiro. "Eu falei pra você que a manteiga não ia adiantar nada", ele completou, olhando raivosamente para a Lebre de Março.

"Era a melhor manteiga", a Lebre de Março replicou mansamente.

"Sim, mas algumas migalhas devem ter caído", o Chapeleiro rosnou. "Você não deveria ter passado com uma faca de pão."

A Lebre de Março apanhou o relógio e olhou para ele melancolicamente; então afundou-o na sua xícara de chá, e olhou novamente para ele: mas parecia que não encontrava nada melhor para dizer que o que já dissera: "Era a melhor manteiga, você sabe."

Alice estivera olhando por cima dos ombros com curiosidade. "Que relógio engraçado!", ela observou. "Ele diz o dia do mês e não diz a hora!"

"Porque deveria?", resmungou o Chapeleiro."Por acaso o seu relógio diz o ano que é?"

"É claro que não", Alice replicou rapidamente, "mas é porque o ano permanece por muito tempo o mesmo."

"Este é exatamente o caso do meu", disse o Chapeleiro.

Alice sentiu-se terrivelmente perturbada. O comentário do Chapeleiro parecia para a menina completamente sem sentido, e ainda assim era inglês. "Eu não estou entendendo nada", ela disse, o mais educadamente que pôde.

"O Leirão está dormindo novamente", disse o Chapeleiro, e despejou um pouco de chá quente sobre seu nariz.



Carroll