domingo, 30 de maio de 2010

follow don't follow


ffffound!

segunda-feira, 17 de maio de 2010

sol e solidão

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Num quarto azul

Deitei na cama de cima do beliche e comecei a pensar sobre aquele quarto que então era meu. O armário embutido que ocupava uma parede toda, os buracos e farelos de cupim, o “Tânia, a primeira! 1980” rabiscado à caneta na parte interna da porta. Tânia deve ter desfrutado desse armário menosvelho com cheiro de madeira gostosa há exatos 30 anos, quando as roupas ainda ficavam limpas e seguras ali dentro e as prateleiras ainda existiam – não apenas seus furos -, indícios de um passado menos miserável. Se Tânia ainda vive, já deve ter passado dos 50; talvez tenha pego por hábito rabiscar cada armário novo que encontrou ao longo dos anos ou talvez já seja avó. Eu, com 23, sinto que pesaria demais rabiscar meu nome ali ao lado de Tânia, para daqui a 30 anos (pois daqui a 30 anos esse armário certamente continuará por aqui) alguém refletir e supor alguma coisa sobre minha existência, alguma coisa talvez mais digna do que terá sido minha real existência.

Li Tânia rabiscado ali e lembrei de outro lugar, outra noite, quando conheci um prédio com esse nome. Ri quando me falaram sobre esse tal prédio chamado Tânia pela primeira vez, mas quando vi a porta do armário pensei: destino? ou talvez seja só essa necessidade que às vezes parece um tanto estúpida, essa coisa de querer achar um significado em tudo. ou Tânia talvez tenha se formado aqui e foi para Lajeado construir um prédio, quando profetizou: em 2010, isso tudo fará sentido.

Mas a noite em que deitei no beliche e comecei a pensar sobre aquele outro já passou faz tempo. muitas coisas poucos dias se passaram desde o último final de semana sóbrio – breve pausa antes de tudo que estava por vir. o porvir, leve véu azul que cobre minha janela e deixa transparecer nossos anseios, de todos nós e desses anos que nos separam de algo que talvez não seja nada.
- nada não é nada - ela disse. mas pra eles era tudo, aqueles anos e o véu que brilhava com as gotas depois da chuva no sol.
Depois da noite em que deitei no beliche as coisas mudaram todas; e eles disseram:
- tudo que temos são todos esses caminhos que estão à nossa frente, mas estamos aqui parados porque isso é tudo.
Peguei minha cesta de vime e saí pelo caminho, e tudo de gostoso que há na cesta é dividido com todos que trazem tudo que têm e assim todos temos tudo e tudo é nosso.

Talvez naquela noite azul eu tenha decidido não esconder minha lunaticidade de mais ninguém, o que atraiu todos os lunáticos carentes das bandas da capital – se é que não fui eu atraída para junto deles, nova integrante do clube dos que ouvem Beatles e Dylan enquanto estudam.
Como se as coisas fizessem sentido, como se ouvisse a voz de Devin dizendo i saw god, como se eu mesma tivesse visto deus numa noite da boa, como se deus tivesse me dito
- ela não sabe o que há por vir, cubram-na com o véu!
coberta com o véu bati na porta do quarto em frente e me disseram
- pode ficar; aqui pagarás o preço por tudo que de bom existe aqui.
e eu disse
- como foi escrito
e bebi de tudo que eles tinham para oferecer, e conversei naquela noite por duzentos anos com cada um que encontrei, e lhes falei
- cada um com seu mundo, dividimos todos o mesmo universo.
nos encontraremos
quando perdermos
todo o resto.
falamos sobre como deveria ser fácil se perder desse jeito, mas você sabe que é encontrado quando começa as frases com maiúsculas.
- minhas palavras são pra todos vocês.
alguém perguntou
- vocês quem?
- vocês todos, cada você que possa existir, um você diferente quando quiser, e todos vocês quando enjoar de você.
Foi quando você saiu e disse que eu era confusa demais, disse que precisava ir e esses poucos dias que passaram desde então parece já tanto mais tempo, vocês todos parecem tão diferentes e eu sou tão vocês e tão pequena quando venta na sacada, tão leve quando é segunda de chuva que penso se não poderia sair voando se me atirasse do quinto andar
- mas o quinto andar é o melhor de todos!
você disse e eu
- sei, é por isso que não me atiro.

Copiei do quadro as questões como se fosse mesmo respondê-las, fiquei com vergonha que você pensasse que não me importo. A primeira copiei igual, e na metade da segunda comecei a falar sobre como chovia e como era cinza a segunda e que coincidência que era falar sobre a segunda justamente na segunda questão. então era eu parada no meio daquela rua calçada de cinza, por onde nem os carros nem você passavam. e era eu como se estivesse na rua; era eu no ônibus e fora era cinza e verde e chovia quando você disse
- oi, pequena
e daí era eu 4 anos dizendo
- feliz dia das mães, é chuva é chuva
e você vindo por cima da ponte com a cabeça cheia de luz do sol, logo atrás todachuva do mundo e os trovões
- somos você, somos todos os vocês que te encontrarão.
é você agora e eu daqui a 20 anos, sentada no ônibus com a chuva lá fora e pensando o que terá acontecido com aquele quadro que tinha um anjo e duas crianças sobre uma ponte, é você dizendo:
sou você há 10 anos: brilhará como brilhei e sofrerá.
é você há 10 anos, sentada no ônibus grata por ser quente e seco ali, tão parecido com metrô europeu só que mais amarelo, ali você pensou: ama: e percebeu que toda a chuva era ali fora como você nunca seria, fluindo do pó à lama e terminando cada madrugada numa outra cama.
- não consigo dormir
você disse, mas o que ouvi foi você querendo um chocolate alpino e falando sobre um almoço feliz numa cidade cheia de zumbis, então eu queria que você parasse de misturar doces com essas coisas, te puxei pra cima de mim e você disse
- quero dormir
fiz um pensamento circular e coloquei-o sobre sua cabeça como uma coroa, um halo de luz do sol, a chuva batia contra a janela e o dia já não era cinza: era noite
me puxou sobre você quando o escuro era bom
- é todo esse vazio que está entre minhas pernas: preencha-o
e estive dentro de você até que não me quisesse mais, até raiar outro dia onde você continua parado no meio da rua, onde estive há vinte anos e quis me perder.
- fujo quando cai a noite porque a chuva me faz fluir.

crescemos com a imaginação longe daqui, lá onde se pode ouvir os teclados espaciais de uma saga em terras longe demais de se alcançar.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Gia

Yeah, I go see, I go see.
Nobody sees me.

"Ah, piece of meat, come here.
Show me your bag."

And they stick their finger in you.

"I just wanna taste your temperature."

Go see, go see, go see,
go see somebody else.

I ain't no good at this.
I ain't no good at this at all.

But even if you are good at it,
what, exactly, are you good at?



(trecho do diário de Gia Carangi)

terça-feira, 4 de maio de 2010

the unforgettable fire

walk on by
walk on through
so sad to beseige your love so head on
stay in this time
stay tonight in a lie
i'm only asking but i
i think you know
come on take me away
come on take me away
come on take me home
home again

(U2)

sábado, 1 de maio de 2010

nada

essas coisas não são tão óbvias quanto podem parecer após uma garrafa de vinho numa sexta à noite para curar um orgulho ferido.
eu não tenho orgulho
nem o que ferir:
não bebo.
vem você com o coração engolido pela razão comprada num sebo
- custou bem barato
e acredito mesmo: você esteve atrás de uma razão qualquer,
agarrou-a e seguiu
sem sentido
sem sentir
e todos os caminhos do mundo
te levam
para o meio
do nada.
você conhece todas as palavras mais difíceis para falar sobre o nada
e quando surge algo para ser dito
- elas me fogem todas
é o que diz.
nothing
rien
nada
niente
nichts
me diz ao ouvido, como se eu estivesse competindo para saber mais sobre o nada que você
- mas ei
digo
- não sei palavras bonitas, e algumas pessoas simplesmente não merecem
nenhuma.