sexta-feira, 27 de março de 2009

Enquanto alguém falava sobre a chamada “revisão conservadora”

Ele entrou na sala – na sala tão cheia de rostos tão vazios e descoloridos perdia-se tanto que reconhecia a si próprio apenas como ele. Aula de teorias que tentavam explicar os vazios e lhe auferir alguns por quês, pensou, e também pensou que poderia estar em casa bêbado no chão e no escuro. Perdeu-se em algum ponto entre a acomodação das elites cariocas e a relação das províncias enquanto o governo central com mão de ferro massacrava a todos. Estava frio. Ele olhava ao redor e percebeu, como nunca antes percebera, que toda a cor da sala concentrava-se num único ponto: as paredes eram bege, o piso era creme, as luminárias eram gelo: os únicos resquícios de cor estavam todos no quadro negro que era verde desbotado e empoeirado.
Estava caído e bêbado no chão escuro de casa, e era ele mesmo outra vez. De repente, ele olhou para o lado: ela estava ali, toda ela, bem ali.