sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Sobre a mulher que tentou provar sua humaneidade

Olhava para a tela quebrada à sua frente.
(despedaçada pouco antes para provar que seu líquido não era mais quente que seu próprio sangue)
Percebeu que não havia nada a ser provado, nem ninguém para além da tela.
(cortara os dedos na tela e o sangue escorria quente por entre)
Queria estar longe e esquecida como se nunca tivesse sabido como é existir.
(existia sem nunca ter vivido)
Disseram que fora de onde o mundo é enquadrado numa janela, lá as pessoas são felizes.
(quis nunca ter olhado para fora)
Tirou a roupa manchada de sangue e olhou-se no espelho:
(reflexo de uma tela vazia)
tentou voar pela janela.
(sem a tela, nunca teria existido)

A tela está quebrada.