quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

uma vez muito boa

a pergunta mais óbvia é a que se evita fazer - por julgar que óbvia também seja sua resposta.
decidi que estava pronta para tatuar uma vaca quando constatei que pouco me importariam os silêncios
(não se pergunta o que é óbvio)
com uma resposta óbvia para preencher a lacuna: "tatuei uma vaca por causa daquele álbum do Pink Floyd".

num dia de sol-primavera eu soube que precisava deixar Lajeado. fui até uma livraria comprar algo para meu amigo de infância, e abri um livro que dizia

Era uma vez e uma vez muito boa mesmo uma vaquinha-mu que 
vinha andando pela estrada e a vaquinha-mu que vinha andando 
pela estrada encontrou um garotinho engrachadinho chamado 
bebê tico-taco.

essas poucas linhas sem vírgula fenderam a rocha sob a qual eu me abrigara e à minha frente abria-se o portal que desde sempre esperei. precisava passar através dele, sair de lá.
entre os dois lados há escuridão. ao se passar de um lado a outro, o passado se transforma em sonho desfeito e inacessível.

a vaca é para lembrar que o outro lado do portal existe.