terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

V - the new mythology suite

over that hill, my heart
is frozen still

refúgio para as almas é o inferno sob este céu azul, nesse sol que ofusca os cabelos de quem não brilha aloirado.
desde que não tenho mais ignorado as vozes de dentro, temo não conseguir - nunca mais - me interessar pelo que
é de fora. fora é a consciência da desnecessariedade.
aqui fora, sob este céu tão puro, com as árvores e as britinhas brancas sob a janela, a gente merece ser feliz.
eu, com estas palavras delirantes que tomam minha vida, sou desnecessária
(neste inferno de sorrisos bonitos)
eu me abracei de tal forma à consciência dessa solidão, à fome, à miséria, à exaustão física, à insônia, me agarrei aos piores aspectos que me fizeram mulher forte, abracei pra machucar, até que me restassem apenas
estas linhas e o céu azul refletido no esmalte de minhas unhas.
assim eu estava, prensada contra a grama pelo peso do céu, vagando sem o coração para pesar
(para saber por trás do que é bonito, entreguei-o à personificação da humaneidade: um sociopata de frios olhos negros;
“agora que você sabe o que há por trás, vá” - foi o que ele me disse)
quis me livrar de todo o peso para chegar ao céu através da grama.
quis chegar ao significado das palavras mágicas, à pureza da chuva no barro, à leveza de um gato arisco.
escolhi para sempre o destino dos malditos que querem ser o que quer que sejam.
só não contava com você.
com v. aparecendo do nada, um estranho ostentando o símbolo que adotei para minha incompreendida solidão de alma. quando comprei aquele pôster de letras vermelho-sangue numa liquidação, todos acharam
tão bonitinho engraçado “veja só ela”;
tão fortemente me agarrei ao que esse quadro simbolizava que fugi de casa agarrada nele enquanto ninguém
me via.

então você apareceu, carregando à sua frente o símbolo secreto do meu exílio deste mundo.
e o que v. dizia era Pantera.
Pantera, meu único consolo após longos dias de trabalho que emendavam noites bêbadas.
todas as noites ouvia Pantera, bêbada quase ao ponto de entender as palavras que eram cantadas; bebi até conseguir digeri-las.
depois disso, passei a temer o que você pudesse significar, temi que pudesse significar O que me faria esquecer destas linhas que não quero esquecer e que me mantêm viva.
por temer que v. pudesse
abracei o improvável e o cruel,
para provar a mim mesma que não há nada além desta solidão, para entender que não é dos outros que virá a sugestão de alguém para significar.
joguei-me nisso com tudo que sou
para provar que há ninguém por trás de quem quer fugir da solidão, para crer de uma vez por todas que meu coração jaz estilhaçado sob a indiferença humana.
para tentar esquecer que v. poderia significar.

voltei aqui julgando-me salva, indiferente às apelações humanas, a alma toda nessa música que está tocando.
mas você continuou significando.
v. sabe o significado dos jogos, da música e do sombrio, como se entendesse o que é fugir para o leste.
você já significa, independente da minha vontade; não estou mais sozinha, e surpreendi-me desejando não estar. depois que entendi o que v. significa, senti a força que estas linhas podem ter, e descobri que elas não desaparecerão se você chegar mais perto. e que para alguém mais, estas linhas podem significar.

this is

e v. é o que há nos sonhos,
tudo e nada no abrir de olhos.