sábado, 20 de março de 2010

Violetas

















Em 1963, o monge budista Thich Quang Duc ateou fogo ao próprio corpo em protesto contra a perseguição religiosa no Vietnã do Sul. O fotógrafo Malcolm Browne registrou o silencioso protesto do monge nas ruas de Saigon. morreu imóvel, sem emitir um suspiro sequer.

É a imagem da fé suprema em algo que transcende a lógica, e pra mim também ilustra a frase de Mark Twain: "Perdão é o perfume da violeta sob o calcanhar por qual foi esmagada". Eu acredito em karma, ele existe e vejo-o claramente: vejo a dor que algúem causa, vejo a dor que recebe logo ali adiante. Nunca devemos dizer (ou mesmo pensar): por que você fez isso comigo? Ninguém pode fazer algo conosco sem que consintamos com isso em algum nível.

Aprendemos a culpar os outros - às vezes até encontramos alguém que assume a culpa que é nossa, em silêncio, e daí nossa razão está satisfeita. Aprendi que não faz diferença discutir de quem é a culpa ou jogar nossa razão na cara de alguém, porque cada um sabe a verdade em seu coração (ainda que inconscientemente). E é por essa verdade que pagamos, não pelas coisas que inventamos pra justificar e dar sentido racional a todo o resto; a dor que você causa agora é a dor que caminha ao seu encontro e que te tocará onde mais machuca: é a solidão, é o carro roubado, é o corpo ferido.

Não vou desistir desse caminho, não vou deixar de sonhar. Estou caindo aos pedaços, mas vejo ali fora alguns raios de sol e resta em meu coração, lá no fundo, esperança - e é isso que me faz sorrir depois de chorar. Viver sem esperar nada é viver sem esperança, na frieza da apatia; não desisti: ainda resta calor aqui dentro.