terça-feira, 15 de setembro de 2009

Lá está o rapaz que chamam de gênio

Este não é meu: quem escreveu foi meu amigo Monstro do Pântano. Gosto das coisas que ele escreve, e gostei muito deste: por isso está aqui.


Lá está o rapaz que chamam de gênio. Veja como se porta. O olhar abafado pelas ruminações atemporais – eu
precisava duma frase assim. Afinal, o que é um olhar abafado? O que são ruminações atemporais? O rapaz que chamam de gênio sabe. Ele olha enigmaticamente a todos e enxovalha as primeiras bocetinhas. Lá está aquele...gênio! Sim oh sim é genial que rapaz que têmporas que palavras muito bem colocadas e como escreve bem o gênio. Ele não precisa de argumentos – é um gênio. Está, está muito bem acentuado em seus traços psicológicos tal genialidade. A forma com que ele dá o primeiro passo ao entrar na sala... que estilo! Gênio! Oh são tão raros homens como ele, que rapaz espirituoso. Um olhar afetado que diz mais do que parece dizer mas menos do que queríamos que dissesse. E que modos tão estranhos – mas nele que é gênio fica tudo muito bem. A timidez dos gênios como ele casa (ai, casa!) com a incompatibilidade de espírito ao social. Sempre entrando de sopetão nas conversas e... dizendo abstrações ou sutilezas que resumem uma conversa. Ai, gênio, gênio! Parabéns, você é um gênio. E sabe o que mais gosto nos gênios? A segurança e proteção que deles emana. Porque eles sabem mais que nós – são gênios, são inalcançáveis, maiores que nós; é isso que a sociedade está procurando: o que é maior que o racional.

Cuidado! Olha, vê como te porta. O gênio está vindo aí, quero que preste muita atenção nele porque você precisa de um gênio pra acalentar teu instinto maternal, Geórgia.

- Olá, mestre Derrotadinho, como vai?

- Olá senhor Gênio! Vou muito bem, aliás excelentemente bem. Como vai o senhor?

- Obrigado por perguntar... mas... eh, bem, a vida tem dessas que nós, ah... sabes o que.

- Oh sim, sim! Como se não soubesse, se não soubesse. Sabe senhor, muito lhe admiro. Aquilo... aquilo que o senhor me disse, aquele conselho valioso, bem, como não poderia ser menos enigmático e genial aquilo que dissestes! Tenho em vossa...vossa...ai esqueci de conjugar o vós...vossa...vossa...ai, desculpa gênio. Desculpa. Não posso continuar a frase se não sei conjugar o vós.

- Não há o que se desculpar. Mas não seja comunista, viu? Há idade pra tudo. Pra tudo! Você acha que eu cairia nesse papinho? Fique... fique esperto. Não se apegue a paixões nem valores que o ridicularizem depois, numa luta que ninguém dá um tostão e aí... aí.... ai, mestre Derrotadinho. Aí serás gênio!

- Gênio... gênio... quero... ser... gênio.

- Mas não se esqueça de ligar todo dia às 20h pra sua namorada e dar a ela saborosas satisfações. Faz parte do esquema dos gênios: somos invulneráveis. Somos austeros. Somos incorruptíveis. Somos bem crescidinhos – damos proteção. Damos tudo, tudo! Gênios ah gênios! Trabalhamos, estudamos, lemos, indicamos autores, ditamos regras de comportamento social e falamos o que há para ser ignorado (por exemplo, não vá à FACED) – gênios! Mas... não se esqueça de ligar... de deixar um recado à namorada e avisar onde estamos. É importante aos gênios (não conte a ninguém).